ANCORAGEM

Ancoragem
Robert Dilts
Na PNL, "ancoragem" se refere ao processo de associar reações internas com algum gatilho externo ou interno porque assim, prontamente, podemos acessar essa reação de novo. A ancoragem é um processo que na superfície é similar à técnica do "condicionamento" usada por Pavlov para criar uma ligação entre escutar uma campainha e a salivação nos cachorros. Ao associar o som da campainha com o ato de dar comida para seus cachorros, Pavlov descobriu que, eventualmente, podia só tocar a campainha que os cachorros começavam a salivar, mesmo que não lhes fosse dada nenhuma comida. Na fórmula estímulo-reação dos behavioristas, entretanto, o estímulo é sempre uma sugestão ambiental e a reação sempre uma ação comportamental específica. A associação é considerada reflexiva e não uma questão de escolha.

Na PNL esse tipo de condição associativo foi expandido para incluir ligações entre outros aspectos da experiência além das sugestões puramente ambientais e reações comportamentais. Uma imagem recordada pode se tornar âncora para uma sensação interna particular, por exemplo. Um toque na perna pode se tornar âncora para uma fantasia visual ou mesmo uma crença. Um tom de voz pode se tornar âncora para um estado de exaltação ou confiança. Uma pessoa pode conscientemente escolher estabelecer e re-disparar essas associações para ela mesma. A ancoragem pode ser uma ferramenta muito útil para ajudar a estabelecer e reativar processos mentais associados com a criatividade, o aprendizado, a concentração e outros recursos importantes.

É significante que a metáfora da "âncora" seja usada na terminologia da PNL. A âncora de um navio ou de um barco está amarrada pelos membros da tripulação a algum ponto estável a fim de segurar o navio numa certa área e evitar que ele navegue sozinho. A implicação disso é que a sugestão que serve como "âncora" psicológica não é apenas um estímulo mecânico que "causa" uma resposta como também é um ponto de referência que ajuda a estabilizar um estado particular. Para ampliar completamente a analogia, o navio pode ser considerado como o foco da nossa consciência no oceano das experiências. As âncoras servem como pontos de referência que nos ajudam a descobrir um local particular nesse mar de experiências, a manter lá a nossa atenção e evitar que ela ‘flutue.’

O processo de estabelecer uma âncora envolve basicamente a associação simultânea de duas experiências. Nos modelos de condicionamento behavioristas, as associações se tornam mais fortemente estabelecidas através da repetição. A repetição também pode ser usada para fortalecer as âncoras. Por exemplo, você pode pedir para alguém re-experimentar ativamente uma ocasião em que estava muito criativo e bater de leve no ombro dele enquanto ele pensa na experiência. Se você repetir isso uma ou duas vezes, o toque no ombro vai começar a se tornar ligado ao estado criativo. Eventualmente um toque no ombro fará a pessoa automaticamente relembrar o estado criativo.
Uma boa maneira de começar a entender os usos da ancoragem é considerar como isso pode ser aplicado no contexto do ensino e da aprendizagem. O processo da ancoragem, por exemplo, é um meio efetivo de solidificar e transferir experiências de aprendizagem. Na sua forma mais simples, a "ancoragem" envolve o estabelecimento de uma associação entre uma sugestão externa ou estímulo e uma experiência interna ou estado, como o exemplo de Pavlov tocando a campainha para seus cachorros. Uma grande parte do aprendizado se relaciona com o condicionamento, e condicionamento se relaciona com o tipo de estímulo ligado à reação. Uma âncora é um estímulo que se torna associado com uma experiência de aprendizagem. Se você puder ancorar alguma coisa no ambiente da sala de aula, você depois poderá trazer a âncora para o ambiente do trabalho, no mínimo, como uma lembrança associativa do que foi aprendido.
Como exemplo disso, fizeram uma pesquisa com estudantes na sala de aula. Eles fizeram os estudantes aprender um tipo de lição numa certa sala de aula. Depois dividiram a turma na metade e colocaram um dos grupos numa sala diferente. Então testaram os estudantes. Os que estavam na mesma sala onde tinham aprendido a matéria se saíram melhor nos exames do que os estudantes que foram deslocados para a outra sala. Presume-se que isso ocorreu porque existiam pistas ambientais associadas com a matéria que eles aprenderam.
Todos nós provavelmente já estivemos numa situação onde queríamos relembrar algo, mas como estávamos num ambiente diferente, onde todos os estímulos são muito diferentes, é mais fácil não se lembrar. Ao desenvolver a capacidade de usar certos tipos de âncoras, professores e discípulos podem tornar mais fácil a generalização do aprendizado. Existirá certamente uma grande possibilidade de que o aprendizado seja transferido se também pudermos transferir certos estímulos.Existe outro aspecto da ancoragem relacionado com o fato de que os cachorros de Pavlov tinham que estar num certo estado para que a campainha significasse alguma coisa. Os cachorros tinham que estar com fome, e aí Pavlov podia ancorar o estím
.Âncoras naturais
As âncoras naturais se referem ao fato de que nem todos os estímulos são igualmente efetivos como âncoras. Nós formamos associações com relação a algumas sugestões mais facilmente do que com outras. Claramente, a capacidade de fazer associações com relação a sugestões ambientais a fim de escolher reações apropriadas é vital para a sobrevivência dos animais. Como resultado, varias espécies de animais desenvolveram uma maior sensibilidade a certos tipos de estímulos do que outras. Ratos, por exemplo, a quem deram dois recipientes com água para beber, um com água inofensiva e o outro com água estragada, aprenderam muito rapidamente a distinguir a segura da outra pois a estragada era de uma cor diferente. Eles levariam muito mais tempo para aprender a distinguir entre as duas águas se elas simplesmente tivessem sido colocadas em recipientes de formatos diferentes. A cor é uma âncora associativa mais "natural" para os ratos do que a forma. Do mesmo modo, Pavlov descobriu que seus cachorros podiam ser condicionados a salivar muito mais rápida e facilmente usando o som como estímulo de condicionamento do que se usasse sugestões visuais, como cor e forma, como estímulos.
As âncoras naturais são provavelmente relacionadas a capacidades neurológicas básicas. Palavras, por exemplo, são capazes de formar âncoras poderosas para os humanos, mas não para as outras espécies. Outros mamíferos (contanto que possam ouvir) reagem mais ao tom da voz mais do que à palavras especificas usadas. Presume-se que isso ocorra porque eles carecem do aparato neural capaz de reconhecer as distinções verbais no mesmo grau de detalhes que fazem os humanos. Mesmo em humanos, os órgãos dos sentidos e partes do corpo têm capacidades distintas. O antebraço de uma pessoa, por exemplo, tem menos terminações táteis nervosas do que a palma da mão. Assim, uma pessoa é capaz de fazer distinções mais finas com os dedos e mãos do que com seus braços.
Estar atento as "âncoras naturais" é importante para selecionar os tipos de estímulos a serem usados para ancoragem. Diferentes tipos de meios de comunicação podem ser usados para ajudar a fazer mais facilmente certos tipos de associações. Como pessoas, os indivíduos podem ter certas tendências naturais voltadas para certos tipos de âncoras por causa de suas capacidades representacionais naturais ou aprendidas. Uma pessoa orientada visualmente será mais sensível a sugestões visuais; a pessoa orientada cinestesicamente pode fazer associações mais facilmente com sugestões táteis; indivíduos que são orientados auditivamente serão suscetíveis a sons sutis, e assim por diante. Cheiros, muitas vezes, formam poderosas âncoras para as pessoas. Em parte isso é porque o sentido do cheiro está ligado diretamente a áreas associadas do cérebro.
Âncoras ocultas
Algumas vezes as mais poderosas âncoras para as pessoas são aquelas na qual o estímulo está fora da consciência. Essas são as chamadas âncoras "ocultas." O poder das âncoras ocultas vem do fato que elas ignoram o filtro e a interferência da consciência. Isso pode ser útil se a pessoa (ou grupo) está se esforçando para fazer uma mudança porque a sua mente consciente fica interferindo. Isso também faz das âncoras ocultas uma poderosa forma de influência.
Âncoras ocultas são muitas vezes estabelecidas em função do sistema representacional menos consciente do indivíduo. Uma pessoa altamente visual, por exemplo, pode não perceber as trocas sutis no tom de voz. A voz então, pode se tornar uma rica fonte de pistas inconscientes para esta pessoa...

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